(SÃO PAULO) - Os preços dos imóveis em São Paulo, o maior mercado do Brasil, chegaram ao piso e deverão permanecer perto desse nível até o ano que vem, pelo menos, enquanto houver recessão, segundo duas das maiores empresas imobiliárias da cidade.
A perspectiva é um reflexo sombrio da atividade comercial na cidade, maior polo financeiro do país e terceiro maior colaborador com a produção econômica depois dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. A queda da atividade econômica no Brasil pegou o setor imobiliário em cheio, com dois anos consecutivos de contração, desemprego acima de 10 por cento e inflação alta. A confiança do consumidor afundou e os bancos estão evitando oferecer crédito.
As construtoras vêm oferecendo descontos em meio ao excesso de novos apartamentos, alto nível de distratos e crédito mais restrito, disse Eric Alencar, diretor financeiro da Cyrela Brazil Realty SA Empreendimentos e Participações.
“Os preços atualmente estão mais baixos que no passado e mais baixos do que estarão no futuro e isso representa uma oportunidade para os clientes”, disse Alencar em teleconferência com jornalistas. Um terço das unidades da Cyrela está à venda na cidade de São Paulo, segundo a empresa.
A taxa de crescimento do preço médio do metro quadrado dos imóveis residenciais em São Paulo desacelerou fortemente nos últimos cinco anos, de uma taxa ano a ano de 26 por cento em abril de 2011 para uma taxa de 0,8 por cento no mês passado e valor de R$ 8.623 (US$ 2.463), segundo o índice FipeZap, que acompanha o preço anunciado das unidades à venda. São Paulo é a segunda cidade mais cara do Brasil em termos de propriedades. O Rio de Janeiro é a primeira.
Embora os preços das propriedades possivelmente não caiam mais, eles também não subirão, e com a inflação em cerca de 9 por cento ao ano, os valores dos imóveis ficarão sob pressão até que a economia melhore, no ano que vem, disse Emílio Fugazza, diretor financeiro da Eztec Empreendimentos e Participações. A construtora, que mira clientes de alta renda, concentra mais de 90 por cento de sua carteira na cidade.
“Nós chegamos ao pior momento dos preços no fim do ano passado”, disse Fugazza, em entrevista. “À medida que o estoque acabar e novos edifícios forem erguidos, os preços se recuperarão para incorporar o custo mais elevado das novas construções”.
Vendas contratadas em queda
A Eztec reportou uma queda de 85 por cento nas vendas contratadas no primeiro trimestre e anunciou seu primeiro novo projeto desde junho de 2015, a ser construído com a Cyrela no bairro de Moema, em São Paulo. Ambas as empresas disseram que continuam focadas na venda das unidades já prontas. A Eztec informou que vai esperar por melhores condições de mercado para tirar novos projetos do papel. A receita líquida caiu 35 por cento no primeiro trimestre, enquanto o lucro líquido teve um declínio de 45 por cento, para R$ 73,6 milhões, disse a empresa na semana passada. No período de dois anos que terminou em janeiro de 2016, a Eztec reduziu sua mão de obra em 40 por cento, para 850 pessoas, disse Fugazza.
A Cyrela reportou uma queda de 28 por cento nas vendas contratadas no trimestre e um declínio de 39 por cento no lucro líquido, para R$ 61 milhões, segundo um comunicado da semana passada. Dos seis novos projetos que a empresa iniciou no primeiro trimestre, quatro ficam no estado de São Paulo.