Por Juliana Schincariol
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O segmento de baixa renda no mercado imobiliário ainda apresenta alguma resistência ao cenário da fraqueza da economia brasileira e deve ganhar novo respiro com foco da Caixa Econômica Federal em 2015 de financiamento de imóveis novos, em especial a habitação popular.
A Caixa reduziu a cota de financiamento de imóveis usados, o que pode ajudar as construtoras do setor no curto prazo, disseram analistas. Para operações com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), esta cota vai passar de 80 para 50 por cento nas operações do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e de 70 para 40 por cento para imóveis no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), pelo Sistema de Amortização Constante (SAC). A medidas entrarão em vigor em 4 de maio.
"Isso tem uma perspectiva um pouco favorável no curto prazo para as incorporadoras", disse o analista da BB Investimentos, Daniel Cobucci.
Segundo ele, a maioria dos consumidores que compraram imóveis nos últimos 12 meses adquiriram unidades usadas. Ele citou levantamento da Fipe com o site de anúncios de imóveis Zap, cuja pesquisa trimestral mais recente mostrou que 39 por cento das pessoas pesquisadas adquiriram imóveis novos e 61 por cento, usados.
"Isso, (foco da Caixa em moradias novas) pode mudar um pouco a favor de desafogar os estoques... Tem um ganho marginal", afirmou Cobucci, acrescentando que não se trata de uma "grande revolução", uma vez que o volume de imóveis residenciais prontos à espera de comprador está muito alto, quadro agravado pela alta dos juros.
Em 2015, o foco do setor continua sendo a venda de estoques, com construtoras pressionadas por incertezas econômicas para lançamentos de empreendimentos imobiliários este ano.
Entre as empresas que já apresentaram as prévias operacionais do primeiro trimestre, a Gafisa foi a única que apresentou crescimento, impulsionada pelo aumento de vendas e lançamentos da Tenda, o segmento de baixa renda do grupo. Os lançamentos da Tenda, cresceram 31 por cento ano a ano, enquanto no segmento Gafisa, voltado para média e alta rendas, as vendas foram baseadas em estoques.
"A performance de vendas da Tenda foi o principal destaque, com a velocidade de vendas aumentando 10 pontos percentuais trimestre a trimestre para 23 por cento, sustentando nossa visão de que a demanda em baixa renda continua saudável neste momento", disseram em relatório os analistas do banco Credit Suisse.
Enquanto isso, empresas tradicionais do segmento de baixa renda como a MRV apresentaram queda de vendas e lançamentos no primeiro trimestre, mas os números foram considerados robustos pelo Credit Suisse, dada a situação da economia.
Algumas das companhias já haviam mencionado que o ritmo de lançamentos no primeiro semestre seria mais lento, caso da Cyrela e Even, que em março disse que iria priorizar a venda de estoques no primeiro semestre, prevendo queda de lançamentos em 2015.